Como sempre, gostaria de deixar bem claro que esse texto é um relato das minhas experiências pessoais na minha (ainda!) curta jornada como médium de incorporação da Umbanda. Aqui você vai encontrar minha descrição de uma situação particular e que pode ou não ser semelhante a sua ou do seu amigo, ok!?
Explicar como é a incorporação na Umbanda com certeza é a parte mais difícil para qualquer médium. Muitas pessoas tem curiosidade, querem entender como funciona na parte prática as sensações de incorporar um irmão espiritual, mas descrever esse acontecimento é um pouco complicado. Vou começar do começo, das sensações para o efeito e o pós, acho que vai ficar mais claro para que você aí do outro lado consiga entender.
Quais as sensações?
As sensações físicas mais comuns que eu sempre senti e ainda sinto envolvem pernas bambas, e uma paz muito grande. Cada entidade tem suas características físicas, então, dependendo da entidade ela se manifestará de um jeito. Quando a vibração é de preto velho logo sinto uma dor nas costas que me faz encurvar, as pernas também enfraquecem, não é a toa que o médium quando incorpora essa entidade sempre senta em um banquinho, é porque simplesmente não conseguimos ficar em pé por muito tempo nessa posição.
Por que sentimos isso? O próprio nome já diz “preto velho” são entidades com características de um negro, muito idoso e sábio. Essa entidade vem nos ensinar sobre paciência e humildade, assim usam essa roupagem como forma de transmitir esse ensinamento.
Cada entidade tem sua característica física, na minha opinião é como se fosse uma identidade do espírito, isso ajuda muito o médium a identifica-lo. Com o tempo fui aprendendo que um caboclo atirava flecha, outro batia no peito, outro agachava, cada um tem uma forma de “chegar” no terreiro, na incorporação.
Com a prática comecei a identificar as entidades que trabalhavam comigo por essa “assinatura” e antes delas incorporarem eu sentia a sua vibração e comecei a saber com quem iria trabalhar naquela noite. Um médium pode trabalhar com uma ou várias entidades, é tudo uma questão de sintonia, vibração, e chakras alinhados.
Como é incorporar?
Algumas pessoas acham que quando incorporamos o nosso espírito sai do corpo para dar lugar a outro e que depois não lembramos de nada porque não estávamos ali, mas não é bem assim que acontece. O que acontece é uma união dos dois espíritos, a entidade se aproxima e se conecta através dos chakras pelo perispírito, que é o que liga o espírito ao nosso corpo. Assim eles nos usam para se manifestar, para transmitir mensagens, por isso somos médiuns, somos intermediários entre o mundo espiritual e o físico.
Existem médiuns inconscientes, mas eu não sou um deles. Sempre estive presente em todas as incorporações, e essa é a parte mais difícil, saber diferenciar o seu pensamento da intuição que é passada pela entidade, é preciso se entregar muito na hora da incorporação, estar com a mente completamente focada e dentro do trabalho.
Os trabalhos sempre começam com o canto de pontos (músicas) e defumação, isso é bem comum em várias religiões, é um forma de nos fazer entrar em sintonia com Deus e as entidades que vamos trabalhar, e pra mim isso funciona como um mantra. Sempre que os pontos começam eu me desligo do mundo lá fora, e sinto minha mente e corpo se alinharem na paz que preciso para dar passagem para o guia espiritual fazer o trabalho que for necessário.
O que acontece depois da incorporação?
Depois que você incorpora, seus trejeitos mudam pois a entidade passa a se manifestar em você. No meu caso, a primeira cabocla com quem trabalhei (e trabalho até hoje, claro ♥), ela se agacha na hora que chega para incorporar, e leva a mão a cabeça. Quando se levanta ela é extremamente séria, e sempre com a cabeça bem erguida, muito imponente.
O sentimento que ela me transmite é de “Estou aqui para trabalhar e não para brincar, isso é coisa séria”. Para quem vê de fora, percebe que eu mudo completamente a aparência e postura, a voz também muda um pouco, mas é assim faço a minha parte como intermediária e trabalhamos juntas. Ela da passes de energia, e faz tudo o que for designado pela entidade chefe do terreiro. Muito importante dizer, existe MUITA hierarquia dentro de uma gira de Umbanda, nada é feito sem ordem ou sem motivo.
Após a noite de trabalho com a incorporação, a sensação de paz e bem no coração é muito grande, o corpo físico fica bem cansado mas a alma fica leve. E isso acontece como uma forma de agradecimento, é como se ficássemos com um pouco da luz daquele espírito com quem trabalhamos. O sono é pesado e revigorante, no dia seguinte estamos completamente recuperados do cansaço e pronto para outra, e ficamos com uma sensação muito boa de gratidão nos dias que se seguem. Sobre o que foi dito ou visto do consulente na hora da consulta espiritual não lembramos de nada, o máximo que resta são memórias falhas que também se apagam com o tempo, a entidade se encarrega de levar com ela essas informações.
Como eu disse, essa não e uma coisa fácil de explicar, mas pelo que já li e pelo que já tive a oportunidade de vivenciar é basicamente isso que acontece. Existem muitos outros detalhes que variam de médium para médium e também muitas explicações mais técnicas para quem deseja compreender mais a fundo a incorporação. Basta procurar na web que tem muitos sites bons com mais informações. O importante é que depois de ler esse texto você consiga entender o que acontece com um médium de forma bem simples e direta.
Acredito que a mediunidade e a incorporação precisam ser vistas com olhos mais “normais”, como algo palpável, que não tem o que ser temido ou evitado. Ser médium é uma dádiva, e todos os que são precisam ser gratos pela oportunidade. E você que é e por algum motivo ainda não faz esse trabalho em prol da caridade, reveja seus conceitos com carinho, pois existem muitas pessoas (e almas!) perdidas que precisam do seu trabalho e da sua dedicação.
Em breve eu volto com outro relato, se tiverem alguma duvida ou curiosidade deixem nos comentários, vou adorar responder. Claro, dentro do que puder e souber.
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